EDUCAÇÃO DIGITAL E ECOSSISTEMAS DE APRENDIZAGEM EM REDE: Os Ecossistemas Digitais de Aprendizagem
O progresso tecnológico veio possibilitar que as aprendizagens decorram de forma mais flexível e híbrida (Mondini et al, 2016). A educação digital como um processo de ensino e aprendizagem enriquecido por tecnologias digitais, pauta-se pela interação entre atores humanos (professores e alunos, e por vezes técnicos/especialistas) e não humanos, que coexistem num espaço e que estão em comunicação direta e interdependência. (Moreira e Schlemmer, 2020).
Nesta nova forma de aprendizagem à distância surgem, então, novos espaços, não necessariamente físicos, novas relações, mais conexões, onde decorre e das quais depende a aprendizagem. Essa nova existência decorre num ecossistema de aprendizagem digital, onde a aprendizagem ocorre em rede e depende unicamente das interações entre as espécies, as comunidades e o meio ambiente, entre os fatores bióticos (indivíduos da espécie humana e organismos espécie digital) e abióticos (ambiente digital/tecnologias). Um Ecossistema Digital equipara-se, na prática, aos ecossistemas naturais, uma vez que se mostram tão complexos, dinâmicos e repletos de relações de interdependia entre todos os intervenientes (Digital Ecosystem, 2017, em Moreira & Rigo, 2018). Contudo este novo ecossistema transpôs a realidade física e instala-se também na rede digital, consolidando a cooperação e a partilha de conhecimento entre os diferentes atores, criando um ambiente rico em conhecimento. (Moreira & Porto, 2017).
Compreende-se, assim, um Ecossistema de Educação Digital como as correntes de ações, interações e comunicação que decorrem, por meio de diferentes tecnologias analógicas e digitais, entre diferentes atores, humanos e não humanos, ocorrem em espaços geográficos e digitais, com recursos à presença desses atores. Podendo, essa presença ser física e/ou digital. O objetivo final será sempre assegurar processos de ensino e aprendizagem eficazes e eficientes.
Dentro dos ecossistemas de aprendizagem virtual surgem os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) que correspondem aos principais meios ou mecanismos de interação entre os alunos, a instituição e os professores (Mondini et al., 2016). Este termo é cada vez mais utilizado e associado a ferramenta capaz de auxiliar no processo ensino-aprendizagem mediado por tecnologias de informação, ou seja, na educação digital (Zanoni e Baccaro, 2008).
Segundo Carliner (2005, em Mondini et al., 2016) os AVA são excelentes alternativas para a mediação virtual da aprendizagem, uma vez que prezam pela funcionalidade e pela interatividade. Favorecendo ainda o estabelecimento de vínculos entre docente e discente (Affonso e Gomes, 2014, em Mondini et al., 2016). Para Mondini et al. (2016), um AVA de qualidade permite um maior rendimento educativo do aluno, rapidez na execução das tarefas, facilitando o processo de ensino, permitindo diferentes caminhos para o processo educativo, sem descuidar a abordagem pedagógica.
Moreira e Horta (2020) apontam para os vários ambientes híbridos que podem ser criados, com diferentes configurações, que permitem dar resposta às necessidades dos seus "consumidores".
Uma das questões que sempre me coloquei foi sobre a possibilidade de se conseguir uma E@D para níveis de escolaridade mais baixos, dada a sua reduzida autonomia digital. Aliás, deparo-me com essa dificuldade atualmente tentando garantir as aprendizagens esperadas nos meus alunos do 3º e 4º ano de TIC/PROG (oferta complementar da escola). Por isso, como aluna no MPeL e docente que procurar proporcionar aprendizagens a esses alunos, num "ensino não presencial", tenho-me questionado em que modalidade se enquadrariam as minhas práticas. Como referem os autores, o "blended learning destaca-se pela sua flexibilidade, já que permite propor soluções variadas de ensino e de aprendizagem com uso das tecnologias digitais, criando desenhos didáticos, quer centrados no aluno, quer no professor", logo mesmo recorrendo, por vezes, às aulas síncronas em que "eu falo, eles ouvem, podendo questionar", não estou tão longe de uma Educação Digital, que segue uma configuração que dá resposta às minhas necessidades e às dos meus alunos.
A educação híbrida surge como um modelo flexível que pode, de certa forma, ir reduzindo os níveis de interação geograficamente presencial, permitindo caminhar-se para configurações cada vez mais focadas no espaço digital, dando assim resposta às necessidades dos alunos com menos nível de autonomia digital. Contudo, ainda são necessárias algumas mudanças estruturais nos sistemas para que a Educação Híbrida, nas suas diversas possibilidades de configurações, passe a ser uma realidade (Moreira e Horta, 2020), pelo menos nas escolas portuguesa.
Compreendo que, atualmente nas escolas portuguesas, não se esteja a desenvolver uma E@D, nem uma educação hibrida, pois falha, e como refere o Prof. Moreira (2020), um aspeto essencial - o planeamento. Mas caminha-se no sentido de quebrar com as práticas de ensino remoto de emergência para verdadeiras práticas de educação híbrida.
No início do ano letivo, não me parece possível prever quando será necessário confinar e suspender as atividades letivas. Ninguém prevê os confinamentos. Não é possível determinar em que momentos os alunos estarão em casa e em que momentos estaremos a desenvolver atividades na modalidade on-line. Muitas vezes nem sequer conseguimos saber durante quanto tempo permaneceremos on-line. Claro, que os planos devem ser flexíveis (Moreira e Horta, 2020). Mas perante a realidade que vivemos, não será suficiente a flexibilidade dos planos, de um momento para o outro tudo pode ser alterado: exames nacionais que deixam de ser obrigatórios, calendários escolares que são alterados, etc...
As mudanças sociais e comportamentais não acontecem de um momento para outro. Normalmente, são necessárias gerações para se alterarem práticas instituídas. O mesmo acontece em educação, as práticas educativas, que exigem mudanças sociais e comportamentais, não se alteram de forma abrupta, rompendo radicalmente com as práticas anteriores. Elas vão sendo modificadas, caminhando-se num novo sentido, ou se preferirmos, neste caso, caminhando mais rapidamente para alcançar e acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos e as novas teorias.
É neste sentido que uso a expressão "a caminhar para uma E@D".
Referências
- Mondini, V.; Borges, G.; Floriani, R; Domingues, M. J.; Lavarda, C. (2016) Sistema de Evaluación de Calid, Benefícios e Satisfacción en Usabilidad de un Entorno Virtual de Aprendizaje por parte de Estudiantes de Grado a Distancia. Meta: Avaliação, v.8, n.22, p. 69-91. https://revistas.cesgranrio.org.br/index.php/metaavaliacao/article/download/893/pdf
- Moreia, J. A.; Horta, M. J. (2020) Educação e Ambientes Híbridos de Aprendizagem. Um Processo de Inovação Sustentada. Revista UFG, v.20, e:66027. DOI: 10.5216/REVUFG.V20.66027
- Moreira, A.; Porto, C., (2017). Ambientes de Aprendizagem Digitais em Ecossistemas Educativos. Educação no ciberespaço. EDUNIT. https://www.researchgate.net/publication/322212504_Ambientes_de_Aprendizagem_Digitais_em_Ecossistemas_Educativos
- Moreira, A.; Rigo, R., (2018). Definindo ecossistema de aprendizagem digital em rede: percepções de professores envolvidos em processos de formação. Debates em Educação 10(22) 107-120. http://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/5303
- Moreira, J. A.; Schlemmer, E. (2020). Ampliando conceitos para o paradigma de educação digital onlife. Revista Inteações. 55, 103-122. DOI: 10.25755/int.21039
- Schlemmer, E.; Moreira, J. A. (2019) Modalidade da Pós-Graduação Stricto Sensu em discussão: dos modelos de EaD aos ecossistemas de inovação num contexto híbrido e multimodal Educação Unisinos 23(4): 689-708, outubro-dezembro 2019. doi: 10.4013/2019.234.06
- Zanoni, E.; Baccaro, A.T. (2008) Ambientes Virtuais de Aprendizagem e sua Importância no Processo Pedagógico. UNOPAR Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 9, n. esp, p. 99-104, Out. 2008. https://revista.pgsskroton.com/index.php/ensino/article/view/1022/980
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