Avaliação Pedagógica - Atuais perspetivas (Tema 1)

No âmbito do Tema 1 - Avaliação Pedagógica - Atuais perspetivas, fomos convidados a analisar o artigo de Pinto, A Avaliação em Educação: da linearidade dos usos à complexidade das práticas, e posterior partilha, em fórum, das ideias assinaladas e fundamentação da escola, para debate com toda a turma.

Segue-se a minha partilha das ideias assinaladas:

    Depois de uma leitura e reflexão do texto proposto, considero que dois pontos fortes do artigo são as diferentes funções que a avaliação foi assumindo ao longo dos tempos e como essas funções ainda hoje se encontram atuais e são implementadas, apesar dos vários séculos durante os quais se têm vindo a estudar e a implementar a avaliação em contextos educativos.
    O conceito de avaliação está intrínseco à atividade e como refere Pinto (2016, p.5) “as ideias sobre avaliação são produtos de um tempo histórico e é nessa medida que devem ser olhadas e compreendidas.
Com a alargamento do acesso à educação, em meados do séc. XVI, e com o objetivo de assegurar o acesso a melhores oportunidades por parte da burguesia, em detrimento da aristocracia que acedia a essas oportunidades, devido ao seu estatuto social, começou a valorizar-se a avaliação, sendo o exame visto com “regulador e legitimador de um valor social” (Pinto, 2016, p. 5). De notar, que com a desconstrução das sociedades por classe, a avaliação deixou de ter esta função, mas veio assumir uma função semelhante mais tarde.
    De seguida, no séc. XIX, seguindo as tendências e desenvolvimentos da época, principalmente na área da psicologia, mas também como forma garantir uma boa gestão e administração dos sistemas educativos, a avaliação assume a função de e seleção e orientação no sistema educativo, bem como de certificação. A aprovação ou não de um aluno, a sua nota, o seu desempenho vai determinar quais são os melhores e quais aqueles que poderão dar continuidade as sues estudos. Simultaneamente, a aprovação garante uma certificação, perante outros, de conhecimentos/qualificações.
    Contudo, não podemos deixar de conceber a avaliação como um processo pedagógico e, assim, assume a sua função reguladora dos processos de ensino/aprendizagem, o que permite auferir sobre a eficácia desses processos e adequá-los, caso seja necessário. Esta será, em termos pedagógicos, a mais valiosa função da avaliação.
    Ora, uma vez que a avaliação pode assumir diferentes funções, isso implica o recurso a diferentes instrumentos e momentos de avaliação. Apesar de as informações obtidas com os diferentes instrumentos, e em diferentes momentos, não diferenciarem muito e serem complementares, Perrenoud (2001, citado em Pinto, 2016) assume três tipos de avaliação, adequando-se cada um a uma das funções da avaliação: Assim, temos:
  1. A avaliação formativa que suporta a regulação dos processos de ensino/aprendizagem e que decorre simultaneamente aos referidos processos.
  2. A avaliação certificativa que garante, socialmente, que um determinado aluno adquiriu as competências e aprendizagens associadas a um ciclo de estudos e que acontece no final desse ciclo.
  3. A avaliação diagnóstica e prognóstica que determinam a seleção e orientação, em função da análise dos seus resultados correlacionados com a previsão do seu possível, ou não, sucesso num próximo ciclo de estudos.
    Considerando que qualquer situação pedagógica assume três intervenientes: professor, aluno e saber, podemos evocar diferentes situações pedagógicas, consoante o papel mais passivo de um ou outro interveniente. Assim:
  • Se o aluno assume o papel passivo, estamos perante uma situação pedagógica com foco no ensinar, o professor limita-se a transmitir os saberes, recebidos passivamente pelos alunos. Por tal estará em vigor uma avaliação sumativa, pois, o objetivo é auferir se o aluno aprendeu ou não, com o objetivo de selecionar e orientar esses alunos no sistema educativo.
  • Se o papel passivo é assumido pelo saber, então estamos perante uma situação pedagógica formativa, que permite regular o processo de ensino/aprendizagem, avaliando o desenvolvimento do aluno, em relação àquilo que é esperado desse aluno.
  • Se, pelo contrário, é o professor que assume o papel passivo, permitindo que o aluno se relacione autonomamente com o saber, e assumindo o professor o papel de mediador e organizador dos contextos de aprendizagem, estamos perante uma situação pedagógica com foco no aprender, onde a avaliação surge como formadora e permite dar feedback aos alunos, compreender o erro e corrigi-lo.
    Claro que as situações pedagógicas formativas e com foco no aprender são, pedagogicamente, mais relevantes, mas as exigências da sociedade não permitem que qualquer professor se restrinja a esses modelos. Por tal, e apesar de parecerem processo com lógicas exclusivas, hoje em dia, é normal procurar-se estabelecer relações entre as diferentes avaliações, apesar das possíveis tensões que essas relações possam acarretar.
Concluindo, a avaliação assume diferentes funções, com diferentes objetivos, mas na prática, todas essas funções devem e tê, socialmente, de ser acolhidas. Resta definir como é que são acolhidas sem entrarem em confronto.”


Outra ideias partilhadas:

“Hoje parece haver na maioria das instituições uma predominância do processo ensinar, o que torna a prática da avaliação sumativa dominante. Isto não significa que os professores não oscilem na sua prática pedagógica entre os processos ensinar e formar – dando relevo também à avaliação formativa, observando-se uma coexistência de práticas avaliativas – mas na formalização da avaliação para fins institucionais domina ainda a avaliação sumativa.”
Ana Carneirinho, Forum de debate UAb


    Eu acredito que todos os professores realizam com muita frequência e inconscientemente diversos momentos de avaliação formativa, por forma a averiguar os níveis de compreensão e aprendizagens dos seus alunos. Para aqueles que desempenham funções pedagógicas, questionem-se, durante uma aula:
    - Quantas vezes perguntam aos vossos alunos se perceberam?
    - Quantas vezes já repetiram explicações e desenvolveram mais atividades, por forma a garantir que as aprendizagens são realizadas?
    - Quantas perguntas direcionam a alunos identificados com algum problema ou dificuldade de aprendizagem, por forma a compreender se este está a acompanhar os conteúdos?
    - Quantos alunos já indicaram para aulas de apoio ou outras intervenções, de acordo com a oferta de cada escola?
    
    Para mim, estas ações são momentos de avaliação formativa. A inquirição, também faz o aluno compreender e “autoavaliar” as suas aprendizagens.
    Se existem modelos e sistemas educativos mais desenvolvidos, sim, tenho a certeza que sim. Grande parte dos países nórdicos são um exemplo.
    Mas como refere o autor “o contexto faz parte integrante do próprio ato de avaliar" (p. 24). Então, imaginemos um currículo, digamos, mais aberto / flexível num contexto latino. Será que as aprendizagens iriam ser concretizadas e não iriamos (alunos, professores, encarregados de educação, instituições) estender processos de aprendizagem por largos períodos, sem necessidade?
    Na minha opinião, os currículos normalizam os processos de ensino/aprendizagem, procurando garantir uma educação equitativa. Estabelecem, por vezes erroneamente, aquilo que se espera do aluno no final de um determinado ciclo de estudos.



“uma inversão do processo: a avaliação gera o conteúdo”
Jardel, , Forum de debate UAb

    Eu não concordo que seja uma inversão do processo. Eu compreendo o processo como algo cíclico.
    Vejamos, os momentos de avaliação sumativa e a avaliação certificadora também contribuem para a correção dessas discrepâncias que se identificam nos currículos. Por exemplo, os resultados dos exames nacionais e os testes internacionais permitem perceber aquilo que não está bem com um currículo, avaliando (novamente o termo) o currículo em si e permitindo readequá-lo ao contexto e às novas necessidades e exigências sociais (UNESCO, 2016). O processo é cíclico.
    A escola deve preparar os jovens para viverem numa sociedade, onde todas estas diferentes “modalidades de avaliação” também surgem. Existem profissões onde as progressões de carreira são sujeitas a exames e aos resultados métricos desses exames. Já outras valorizam o desenvolvimento profissional do indivíduo. Os jovens têm de estar preparados para tudo.
    Por isso, e no meu entender, as diferentes modalidades de avaliação devem coexistir na escola, estando sempre sujeitas às tensões que o autor refere. Mas cada professor, cada instituição, acaba por ir encontrando pontos de equilíbrio para essa coexistência feliz, de acordo com os contextos onde atuam.


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