Educação a Distância e Elearning, o que pensava e o que penso?

Quando se fala de educação e de ensino, todos temos uma opinião a dar, simplesmente pelo facto de todos, de algum modo, estarmos ou termos estado ligados à educação, simplesmente pelo facto sermos ou termos sido estudantes ou, ainda, porque temos filhos, netos, primos, na escola…

Parece-me que o mesmo está a acontecer com a Educação a Distância e o Elearning. Dois termos que, devido à recente e atual situação pandémica global, passaram a estar mais presentes no dia a dia da sociedade, principalmente através das notícias.

Com o aumento diário do número de infetados por COVID-19, repetidamente se tem discutido o regresso ou não ao ensino a distância?

https://www.dnoticias.pt/2020/9/12/73340-pontos-essenciais-sobre-o-regresso-as-aulas-presenciais-no-continente

https://rr.sapo.pt/2020/10/26/pais/saiba-que-escolas-tem-registo-de-casos-de-covid-19/especial/208033/

https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2020-10-31-covid-19-costa-defende-que-seria-grande-falta-de-respeito-regresso-ao-ensino-a-distancia/

O Jornal on-line Contacto, na mesma notícia, refere o ensino à distância, ensino a partir de casa e Homeschooling como sinónimos.

Provavelmente, eu, antes de iniciar o mestrado em pedagogia do e-learning, faria a mesma confusão. A falta de conhecimento e de tempo para nos debruçarmos e refletirmos sobre estes termos, facilmente nos conduzem a esta ideia, errada, de “é tudo a mesma coisa”.

Para mim, tudo o que não fosse um ensino presencial, em sala de aula, seria uma educação à distância ou e-learnig, se usasse um estrangeirismo.

Mas, depois de alguma pesquisa e da, ainda, curta, mas profunda, experiência que os estudos neste mestrado me têm proporcionado, sinto-me capaz de diferenciar os diferentes termos e perceber que não é tudo a mesma coisa.

Para clarificação, em Portugal, os documentos normativos diferenciam a educação a distância, do ensino doméstico e do ensino individual. A Portaria nº 69/2019 define como Ensino doméstico “aquele que é lecionado, no domicílio do aluno, por um familiar ou por pessoa que com ele habite, já o ensino individual será “aquele que é ministrado, por um professor habilitado, a um único aluno fora de um estabelecimento de ensino”. A Portarian.º 359/2019, define a modalidade de ensino a distância como “uma alternativa de qualidade para os alunos impossibilitados de frequentar presencialmente uma escola, assente na integração das tecnologias de informação e comunicação (TIC)”, “em que o processo de ensino e aprendizagem ocorre predominantemente com separação física entre os intervenientes, designadamente docentes e alunos”, sendo a interação e participação “tecnologicamente mediadas e apoiadas pelo professor-tutor e por equipas educativas de ensino a distâncias”, permitindo assim, o recurso a “sessões síncronas e assíncronas e a utilização do e-learning e b-learning”.

Para Barros (2003), a educação a distância é uma modalidade de ensino que não recorre necessariamente às novas tecnologias, é uma modalidade que sempre existiu, mas que se tornou mais evidente na contemporaneidade devido a alguns fatores que a têm viabilizado de forma mais dinâmica. A autora afirma que os primórdios da educação à distância remontam ao século XVIII, quando em Boston se realizou um primeiro curso por correspondência, sem recursos às novas tecnologias de comunicação e informação e, muito menos, sem recurso à internet. A partir dos anos 60, começou a fortalecer-se e a estabelecer-se como uma importante modalidade de ensino e recorrendo a novos, à data, instrumentos de comunicação entre professores e alunos, tais como o envio e receção dos materiais educativos, recorrendo a meios impressos, a rádio, a televisão, entre outros. Em muito países, o desenvolvimento desta modalidade de ensino foi impulsionado pela forte de necessidade de dar resposta à procura, o que permitia, ainda, aceder, mais facilmente, a áreas mais remotas.

Em suma, a educação à distância será uma modalidade de ensino na qual o professor e aluno não se encontram no mesmo espaço físico , podendo a comunicação produzir-se de forma síncrona ou assíncrona, através de diferentes meios.

Hoje em dia, com o avançar do desenvolvimento informático e com a massificação, pelo menos nos países desenvolvidos, do acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, esta modalidade de ensino passou a ganhar mais forma e adeptos através do recurso ao on-line. Assim, surge uma nova tipologia de Ensino a Distância, o Elearning (do inglês electronic learning, "aprendizagem eletrônica"), um processo de aprendizagem através do qual o aprendente acede aos conteúdos disponibilizados através de equipamentos informáticos (computador e/ou internet) e o professor, quando existe, encontra-se num outro espaço, podendo acompanhar a aprendizagem, também, de forma síncrona ou assíncrona.

Como refere Teixeira (2014), neste tipo de ensino “cabe agora (ao aluno) dirigir a construção do seu próprio de aprendizagem”, ocorrendo uma “emancipação precoce do aprendente”, por oposição à ideia da “emancipação progressiva do aluno na qual o professor detinha a centralidade na condução do processo”, como ocorre, normalmente, na modalidade de ensino presencial.

Portanto, o Elearning poderá ser definido como um tipo de educação a/à distância (EaD) na qual se recorrem a equipamentos informáticos como forma de alcançar a aprendizagem.

 

Afinal, não é tudo igual!

 

 

Barros, D. M. V. Educação a Distância e o Universo do Trabalho. Bauru-SP: EUDSC, 2003.

Teixeira, A. M; RE)ABRIR A EDUCAÇÃO: Uma Questão Filosófica, em “Ensinar e aprender filosofia num mundo digital”; Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2014.

 

Sobre os autores referidos:

António Moreira Teixeira é Professor Associado na Universidade Aberta, investigador no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Presidente da EDEN e também Diretor no IBSTPI.

Doutor, desde 2003, em Filosofia, pela Universidade de Lisboa, tem-se dedicado às temáticas da educação aberta, à distância e e-learning. Integra o comité científico de inúmeras revistas internacionais e já participou em mais de vinte projetos internacionais nas suas temáticas de interesse.

Concebeu e coordenou o desenvolvimento da estratégia de transformação da Universidade Aberta numa universidade exclusivamente online. Em 2012, foi coautor do primeiro modelo pedagógico institucional para iMOOC, liderando o seu desenvolvimento e implementação, e, em 2014, participou na criação do modelo europeu dos sMOOC.

https://www2.uab.pt/departamentos/DEED/detaildocente.php?doc=73

 

 Daniela Melaré Vieira Barros é Professora Auxiliar na Universidade Aberta, é Investigadora no CEIS XX, Universidade de Coimbra, e colaboradora no Laboratório de Educação a Distância e Elearning (LE@D), Universidade Aberta. Colabora na Aula Aberta, é organizadora do MOOC de Estilos de Aprendizagem e, ainda, editora da revista Estilos de Aprendizage.

Com várias especializações, quatro mestrados, dois doutoramentos e uma pós graduação, afirma-se uma “entusiasta das tecnologias”.

Conta com inúmeras publicações na área das tecnologias, educação, formação, ensino à distância, e-learning, de onde se destacam as suas obras “Estilos De Aprendizagem E O Uso Das Tecnologias” e “Educação a Distância e o Universo do Trabalho”.

 https://www2.uab.pt/departamentos/DEED/detaildocente.php?doc=108

https://www.escavador.com/sobre/1260296/daniela-melare-vieira-barros



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